segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Os Caminhos de Parmênides

“Vamos, vou dizer-te – e tu escuta e fixa o que ouviste – quais os únicos caminhos de investigação que há para pensar: um que é, que não é para não ser, é caminho de confiança (pois acompanha a realidade); o outro que não é, que tem que não ser, esse te indico ser caminho em tudo ignoto, pois não poderás conhecer o não-ser, não é possível, nem indicá-lo. [...]” (Poema de Parmênides, Da Natureza, fragmento 2.)

Parmênides está na origem do problema da verdade; na primeira parte do poema está dedicada a “verdade”, a segunda dedicada as “opiniões”. Portanto, na primeira parte divulga os limites de uma filosofia “verdadeira” sobre o ser; na segunda, os limites de um enganador quadro das opiniões dos homens, e, por conseguinte, uma filosofia da natureza fundamentalmente “falsa”. Desta maneira, resolve o problema da verdade: verdadeiro é o ser, e, por conseguinte, o discurso sobre o ser, falsas são as opiniões, e consequentemente, todo o discurso sobre as opiniões.

Embora para Parmênides a verdade seja um problema, porque sendo bastante simples as teoréticas distribuídas na sua perspectiva, não é fácil elucidar o significado e as implicações. Enquanto o “pensar” é fácil de perceber, mais difícil se mostra perceber o campo semântico do “ser”. A saber, Parmênides para indicar o objeto de sua investigação não usa o termo “ser”, mas sim, o ente, “aquilo que é”. Portanto, o primeiro problema é: o ser é a mesma coisa que ente ou indica outra coisa qualquer? Entretanto, o problema complica-se, porque junto a “aquilo que é” aparece também, um não-ente, “aquilo que não é”, e dele se dizem que não é cognoscível nem enunciável, portanto, evidentemente não é pensável. Assim, existe uma íntima relação ente a sequência: ser-pensar-conhecer, e consequentemente, entre a outra: não ser-não pensar-não conhecer. Contudo, as duas sequências poderiam provavelmente enriquecer-se, simultaneamente, com um “exprimir-dizer” e com um “não exprimir-não dizer”, fundamenta-se, por exemplo, em que o dizer, está necessariamente ligado ao pensar.

Apesar disso, permanece a problemática, porque os versos dizem respeito a “aquilo que é”: ingênito, indestrutível, compacto, imutável, etc., e não existe em nenhuma parte do fragmento que indique de “o que é” o ser. E se os sinais de “o que é” são as peculiares em que ele pode ser pensado ou dito, na verdade, o ser é deixado à leitura, isto é, à interpretação. A hermenêutica que apresenta o “ser” coetaneamente engloba em si, o plano da realidade, do existir, da pensabilidade do pensar, e o da enunciação, do dizer; poderia, portanto, ser correto para compreender o pensamento de Parmênides, contudo não pode ser aplicado. Porque se temos de compreender, de traduzir, ou seja, de interpretar, então não ajudaria traduzir o “ser” em todas as suas formas verbais, em positivo ou em negativo. Em suma, “é preciso dizer e pensar que aquilo que é existe”; “aquilo que não é, não é enunciável nem pensável, porque não existe”. A semântica de “aquilo que é”, é plano da realidade, existencial e física formalizado precisamente na forma linguística, serve para indicar o todo, o cosmo das coisas existentes, visto como um movimento do pensamento, na sua unidade dispensando a multiplicidade dos fenômenos particulares que se manifestam.

Parmênides, portanto, demonstra dois aspectos em seus fragmentos: a demonstração lógica e formal das duas questões apresentadas, como se desenvolve fundamentalmente nos versos e a teorização do método, da “via de investigação” por onde dois tipos de afirmações podem ser obtidos. O outro aspecto é aquele que pertence à identidade entre pensar e ser, devemos entender esta identidade no sentido que cada vez que se pensa, pensa-se algo que é, isto é, existente, enquanto que não se pode pensar algo que não é, porque não existe. O pensar está inseparavelmente unido ao pensado, pela evidente razão de que não pode haver pensamento que não seja pensamento de algo, mas também pela razão que o pensamento convenciona no ser, no sentido que não é concebível um pensamento que não seja pensamento da realidade. O pensar convenciona então no ser, está atrelado na realidade e cada vez que se pensa, se diz, portanto, um pensado, pensa-se e se diz uma realidade. Assim, não existe, não se pode, portanto, pensar e não se pode dizer, uma não-realidade, algo que não é, que não existe.

Eliane Maria da Silva Souza